domingo, 22 de novembro de 2009

Ato médico...

Caríssimas e caríssimos, para começar os comentários, vamos ao Ato médico...

Poderia um médico 'prescrever' tratamento psicológico ou psicoterápico a um paciente? Uma das consequencias seria a de que apenas os pacientes que pudessem ser 'encaixados' em algum critério diagnóstico ou categoria nosológica ganhariam a benevolência do médico de encaminhá-los ao psicólogo? Alguém por aí conhece algum médico que escuta o paciente, para além da pura e simplista descrição dos sintomas? Sinceramente, sabemos que isso é raro (não achei outra palavra...). E o sujeito que tem plena noção e interesse (desejo? rsrsrs) de buscar a escuta atenta e interessada, incondicional e empática de um bom psicólogo, devido à suas dúvidas, aos seus problemas, à suas esquivas, às suas repetições, à ausência de sentido de sua vida, aos seus pensamentos automáticos, à sua falta, e por aí vai... Ao médico interessa se o sujeito ouve vozes, ao psicólogo, interessa o que elas dizem. Ao médico interessa quais os sintomas, sua intensidade e duração, ao psicólogo interessa, para além disso, porque isso também, qual a história de vida daquela pessoa que ali está, o impacto que esses sintomas trazem à sua vida, os significados que ele atribui a eles, como lida com eles, o que faz deles. Ao médico cabe entender quais desequilíbrios neuroquímicos precisam ser reequilibrados, ao psicólogo interessa auxiliar o sujeito a identificar as contingências ambientais que o engendram, as distorções cognitivas que são fruto de sua história de vida, os sentidos e significados que atribue à sua vida, por onde passa seu desejo, aquilo que lhe falta, e tantas outras coisas...

Comentem à vontade!

Abraços!!!

6 comentários:

  1. Parabéns pelas sábias palavras. Sou sua fã! Todos juntos contra essa idiotice tentando ser implementada na constituição federal!

    Elizabeth Rocha.

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  2. Caros, como médico não há como me omitir de tal discussão polêmica. Sou totalmente a favor da regulamentação da profissão médica por vários motivos. Usando o exemplo do psicólogo, citado acima, concordo com suas palavras. A abordagem do médico ao paciente é totalmente diferente do psicólogo, já que são profissões diferentes, contudo, sinérgicas. A idéia do ato é evitar que um profissional não médico faça diagnóstico nosológico, pois isso é sim prejudicial ao paciente. Não cabe ao psicólogo saber se o paciente tem cansaço, fraqueza, perda de interesse, tristeza e outros devido a depressão, anemia, hipotiroidismo e etc, cabe ao médico. Me referindo agora a fisioterapia, o ato é fundamental para o trabalho intra-hospitalar. Quem interna, da alta e é responsável pelo paciente é o médico. Se durante a internação outro profissional da saúde quiser exercer sua profissão com "total autonomia", sem a necessidade de ordem ou encaminhamento médico, e prejudicar o paciente de alguma maneira a responsabilidade será do médico. Ou seja, todos querem trabalhar de maneira autônoma, mas a responsabilidade continua sendo do médico. Na minha opinião, isso é um absurdo, assim fica fácil dizer que o ato é idiotice, além disso, volto a citar o que ja dissera. Fisioterapeuta, enfermeiro e etc não são treinados para fazer diagnóstico nosológico, diagnóstico diferencial, logo não podem dar condutas.
    Essa discussao é maior que reserva de mercado ou orgulho bobo entre os profissionais de saúde. Essa discussão envolve a saúde da população, que na minha opinião merece sempre ser atendida por um médico que faça um diagnóstico e indique uma terapia, seja ela medicamentosa, cirúrgica, psiquiátrica, fisioterápica, psicológica e etc.
    Sem mais, aguardo as críticas.

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  3. Discordo plenamente, Rafa. Psicólogo é formado para fazer diagnóstico nosológico sim! Estudamos psicopatologia, CID, DSM, e não só para ter uma ideia, mas para diagnosticar. E encaminhar ao profissional médico se, e somente se, ele julgar necessário. Entendo que a sinergia entre as profissões da saúde a relação deve ser horizontal, e não vertical, em que o médico tem uma posição hierárquica superior, onde só ele sabe diagnosticar e indicar o tratamento. Em se tratando de psicologia, nem todo paciente nos procura devido a um quadro clínico, nosológico. E aí? O médico de um PSF, por exemplo, vai deixar de atender uma mulher hipertensa em seu 8º mês de gestação pra ouvir outro que quer falar das suas dificuldades de relacionamento com a mulher ou os filhos? Isso em um sistema de saúde abarrotado, que sobrecarrega o médico, que o obriga a realizar um número x de atendimentos/dia? E aí? Quantos e quantos médicos, das mais diversas especialidades, nos encaminham pacientes para esclarecer um quadro nosológico??!?

    Abraço!!!

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  4. Então, exatamente por esse motivo que julgo necessário o ato. Sei que os psicólogos estudaram psicopatologia, CID, DSM e que são capazes de diagnosticar. No entanto, argumento te perguntando como um psicólogo faz o diagnóstico diferencial entre as psicopatologias e patologias orgânicas que se manifestam com sintomas de alteração de comportamento, ilusões, alucinações e etc. Como você seria capaz de diferenciar uma psicopatologia qualquer de um tumor do SNC ou uma neuroinfecção ou uma doença metabólica? Por isso, julgo necessário sempre o paciente ser atendido por um médico antes. Caso o médico descarte a possibildade de doença orgânica e tenha dificuldades em estabelecer um diagnóstico nosológico e quiser encaminhar ao psicólogo para trabalharem em conjuto sem problemas. Entende meu ponto de vista??
    Quanto ao número exagerado de consultadas em UBS, no PSF e tal é outro problema, estrutural, de um país em desenvolvimento. No entanto, julgo eu que transferir o atendimento médico para o de outros profissionais de saúde não é a solução, independente do problema que tenha o paciente.
    Abraços

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  5. Primeiramente, retiro e peço desculpas pela palavra usada acima. Foi num momento de (total) indignação. Concordo (sem sombra de dúvida) que a medicina deva ser regulamentava, sim, visto que até o presente momento é a única profissão da área da saúde sem regulamentação. Concordo, também, que diagnóstico nosológico seja (unicamente) dado pelo médico. O problema é o (grande) furo da tal regulamentação, a dupla interpretação de um pequeno artigo. Médicos prescrevendo condutas? Você (baseando em todo o seu conhecimento sobre medicina) sabe me dizer, p.e., quais os parâmentros de um ultrassom para síndrome de dupuytren? Rídiculo? Uma conduta terapêutica para seu paciente... É um singelo exemplo da cautela que devemos ter ao interpretar leis, leis que dão margem para muitas interpretações. E contradições... Antes cita que médicos prescrevem o tto adequado para cada paciente, depois cita que cada profissão tem sua atuação resguardada (?). E o problema não é somente isto. Discutindo agora sobre a saúde da população, se todo o mundo (todo ele) deve passar por um médico antes de ir ao nutricionista, fisioterapeuta, psicólogo, educador físico, fonoaudiólogo, não aumentaria (absurdamente) a demanda de consultas médicas e o preço cobrado por essas consultas??? (lei da oferta e procura!) Estamos brigando por autonomia? Claro! Sou obesa e não posso ir ao nutricionista sem antes passar pelo médico?! Quero muito suicidar, tenho certeza disso... Diretamente para o psicólogo? Não, talvez na fila de espera na clínica do médico essa vontade me passe e eu nem precise procurar outro profissional da saúde, certo?! Tive uma entorse... Tto agudo na fisioterapia? Não... Médico, médico, médico. Estamos preocupados com o rótulo da nossa profissão ou com o bem estar do paciente? Se ele procura um terapeuta ocupacional antes do médico, uma abordagem entre ambos os profissionais não seria melhor para a qualidade de vida dele? Multiprofissionalidade!!! País em desenvolvimento e com um sistema de saúde precário para sempre se cada um continuar crescendo no seu mundinho e esquecer-se de uns 3 princípios básicos: universalidade, integralidade e igualdade.

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  6. Beth, o importante de se entender do ato é que ele não vai fazer com que um médico te ensine a fazer seu trabalho ou te diga como fazê-lo, mas que o médico irá indicar o seu trabalho. Logo, nenhum médico te dirá quais parâmetros de ultrassom usará para nada e assim por diante. Para se dar uma conduta, independente de qual seja, é estritamente necessário ter um diagnóstico nosológico, o qual só o médico é treinado para fazer. Posso muito bem atender um paciente com um entorse no pé há poucas horas, diagnosticar que não há lesões ligamentares ou necessidade de tratamento cirúrgico e indicar fisioterapia, onde está o problema? Em nenhum momento as outras profissões da saúde vão perder sua autonomia.
    Além disso, acho que dessa maneira todas as diretrizes do SUS serão respeitadas como devem ser. O importante é sempre haver um fluxo bom entre os profissionais de saúde, para que trabalhando em conjunto o paciente seja o maior favorecido. Filas para atendimento médico são inevitáveis no sistema público, que dera um dia elas acabem, é o que todos queremos, n é mesmo?
    Abraço a todos.

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