quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Contra-di(c)ção




Disse o que disse
e, dizendo, contradisse
o que havia dito,
mas segue dizendo...

Disse que gostava,
e, dizendo, contradiz-se,
pois não gostava,
havia dito.

Dizendo, pois, se mostra,
mas se contra-dizendo
se entrega, inteiro,
mas segue dizendo...

Diz então que não,
mas outrora disse sim.
Disse da escuridão,
à espera de seu fim.

"Eu, contraditório?", absurda-se!
Até disse que sim,
mas jamais disse que não,
e segue dizendo...

domingo, 14 de outubro de 2012


Depois de mais de ano sem nada postar,
buscando algo para me inspirar,
quem sabe algo apareça
nessa cabeça que não cessa de pensar...



sábado, 25 de setembro de 2010

Happyness...



Depois de um longo e tenebroso inverno, de volta a um blog adormecido, mas ainda vivo!!!

Estive refletindo sobre a felicidade. Psicólogos em geral, e eu também, não são lá muito afeitos a pensar e discutir sobre ela, talvez porque nos formemos ainda muito mais direcionados a dar conta do lado oposto à felicidade, e todos nós sabemos que psicólogo não existe pra fazer quem quer que seja feliz. A alguns isso pode até parecer estranho, mas é fato: não é pra isso que trabalhamos. Por que não? Respondo só por mim. Felicidade não é um lugar onde se pode chegar. Não é estado, nem condição, é momento. Isso já foi dito, tudo bem, que não existe felicidade, que o que existem são momentos felizes. Mas qual o tamanho desses momentos? Segundos, minutos, horas, dias, meses, anos, uma vida inteira? São todos possíveis. Poucos segundos podem trazer-nos mais felicidade que anos não trouxeram. Claro que nos furtamos de pensar que ela acaba, e que quando nos damos conta de que um desses momentos felizes acabou, nos furtamos de pensar se haverá outro, ou quando será, ou como será. Vida é assim, carregada de momentos, felizes e tristes, feios e bonitos, de poucos segundos e de décadas, de belas paisagens e belos caminhos, de céu claro e de tempestades. Fato é que felicidade não é lugar, é momento...

Pra um retorno à vida por hoje tá bom demais...

quinta-feira, 6 de maio de 2010

18 de Maio


Em homenagem ao Dia Nacional da Luta Antimanicomial, 18 de maio, escrevi essa poesia... Porque a luta não pode parar!!!

Normal vem de norma,

Uma espécie de forma,

Por isso a gente informa,

Que não se conforma.


O louco escapa a ela,

Nada contra a maré,

Entra e sai pela janela,

Louco sim, qual é!?


Normais são tantos,

Loucos são poucos,

Enfim, quem fica aos prantos?


Loucos somos poucos, afinal,

Em ser louco, nada mal,

Ser normal, isso sim, não é normal...



sábado, 10 de abril de 2010

Saudade e falta...

Novo post, inspirado por alguém especial, que acaba de entrar de jeito no meu livro...

Saudade não é o mesmo que falta. Quem sente falta de alguém, sofre. Quem sente saudade, não. E isso nem de perto se relaciona à distância geográfica entre duas pessoas. A falta é exigente, a saudade, complacente. A falta exige a presença, física ou não, do outro. Exige mesmo, reivindica-a, força-a, obriga-a. A saudade não faz isso. Ela quer o outro, mas não por necessidade, mas simplesmente porque quer, por escolha. Quando se escolhe estar com alguém, sente-se saudade desse alguém. Quando esse alguém é necessário, ou melhor, quando não há um 'eu completo' sem ele, sente-se falta, ausência, distância mortal. A saudade é deliciosa, apesar de durona. A falta cobra, a saudade compreende. A saudade é exigente tb, claro, nos direciona ao outro, e o outro a nós. Mas, diferente da falta, não exige o outro, mas o quer próximo, só isso. Não se trata de uma diferença de intensidade, mas de qualidade...

Encerro sabendo que posso, nesse novo capítulo do meu livro, sentir saudade, e só ela...

segunda-feira, 15 de março de 2010

Nós...





Post rápido, sem pensar. Viagem pessoal, não custa tentar...


Tudo que tem em mim não é meu,
tomei emprestado de alguém.
Se tivesse em mim só o que é meu,
eu não seria ninguém.

Entre nós há mais que nós,
Entre um e outro, há sempre algo além.
Relações, desejos, nós!
Por demais amarrados, mas com quem?

Não nos cabe saber quais,
Diferentes somos, isso basta,
Mas também, quão iguais!

De nós, alguns se afastam,
Mas em nós sempre algo fica,
De cada um: suas marcas...

sexta-feira, 5 de março de 2010

Sete vidas...


De volta depois da dissertação, ainda respirando... (que dramático!). Assisti ontem esse filme aí, 'Sete Vidas', pra mim a melhor atuação do Will Smith, diga-se de passagem, e achei fantástico. Me fez pensar em uma porrada de coisas sobre a vida, além de me lembrar o post sobre o livro e a vida. O que acontece com os livros depois de escritos e acabados? O que fica, de verdade, de nós nos livros dos outros? E dos outros nos nossos livros? Qual a marca que deixamos nos livros de tantas pessoas com as quais encontramos? Quais as marcas que ficam de tantos cruzamentos de caminhos às vezes tão diferentes? E quais deixamos? Certamente nunca nos damos conta de forma exata quantas páginas ocupamos nos livros dos outros. Certamente também os outros nem tem ideia do espaço que ocupam nos nossos. E mais, e aqueles livros em que estamos presentes sem sequer sabermos disso? E quantas pessoas estão nos nossos sem que saibam disso? Claro que também existem aqueles que sabem-se em certos livros, como sabemo-nos em outros tantos. No filme, o protagonista toma os lápis das mãos de sete pesssoas sem que elas saibam, e inscreve-se em seus livros, em virtude da culpa de ter colocado o ponto final em outros sete. O faz com o intuito de transformar as histórias até então escritas. E o enredo bem construído vai se mostrando aos poucos. Fiquei pensando se certas pessoas sabem que estão no meu livro, se chegaram a ter noção da importância que tiveram. E outras que tiveram a elas dedicados apenas um parágrafo, mas um parágrafo lido e relido uma enormidade de vezes... E será se fiquei assim também inscrito em algum livro? Certamente. Não é narcisismo não, é que as relações que estabelecemos durante a vida são demasiado intrincadas e encadeadas que é impossível saber em quais e de que forma, mas sem dúvida estou por aí em alguns livros... Mas tem uma coisa: se lhe for possível dizer a alguém que ele ou ela faz parte e ocupa um lugar importante no seu livro, não perca a oportunidade de fazê-lo...

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Esperança...

"É bom ter esperança, mas é ruim depender dela".


A esperança é a última que morre. Frase feita, usada por nós todo o tempo, quase sempre com o objetivo de dar a alguém, ou a nós mesmos, um sentimento de que nem tudo está perdido, ou de que uma fase ruim irá passar. Pandora abriu a caixa e somente a esperança permaneceu lá, antes de fechá-la. Todas as demais virtudes se foram. Mas fico pensando cá com os meus botões: a esperança é uma virtude? Será?

Penso que existem dois tipos de esperança: a esperança-caminho, aquela que nos põe 'sentados com a boca cheia de dentes' a simplesmente esperar, imóveis, estáticos, agarrados unicamente a ela, à esperança de que algo ocorrerá e mudará tudo, e a outra que é a esperança-alvo, aquela que carregamos enquanto agimos, que nos dá margem a esperar por algo melhor, sem nos parecer o último dos recursos.

Trazendo de volta a discussão sobre religião, tive sempre a impressão de que ela se sustenta mais na esperança-caminho do que na esperança-alvo. Embora haja sempre aquela ideia de que Deus ajuda, mas que teríamos também que fazer nossa parte, acredito que a imensa maior parte das pessoas não põe em prática tal ideia. Afinal, esperar que Deus, todo-poderoso, se compadeça do nosso sofrimento e tome as rédeas da nossa vida, e por nós faça o que cremos que tem que ser feito. Aí passamos a outra questão: responsabilidade. Esperar nos exime dela, já que não somos nós os que temos que fazer o que quer que seja, mas o outro.

Mas não só Deus, claro. Pode ser a esperança de que o outro note certa situação-problema e tome, por nós, a iniciativa de resolvê-la. Sem que tenhamos que mover sequer um músculo. Mas a esperança-alvo, como a chamei aqui, não congela ninguém. Tampouco exime de responsabilidade aquele que a tem, já que ela é apenas aquela certeza de que, com a luta pessoal, o esforço diário, as superações pessoais, alcançaremos o que almejamos. Ela é companheira de viagem, só isso. Ao lado dela viajamos. A outra, bom, a outra é aquela que esperamos que nos carregue no colo...

Retomando a frase: tenha-a, mas não dependa dela...

Abraços e bjos!













domingo, 7 de fevereiro de 2010

Da efemeridade das coisas...

Tudo é efêmero. Tudo. Mas sempre acabamos por crer que certas coisas são eternas. Mas até mesmo a crença de que existem coisas eternas é efêmera. Cedo ou tarde acabamos nos deparando com isso, nem que seja, em útlimo caso, à força. A vida é um enigma? Não penso assim... Ela é enigmática a quem se propõe sobre ela refletir, pensar, matutar. Não é enigma a quem simplesmente a vive. A quem pensa sobre a vida em demasia, acaba por ter a ligeira sensação de que tem controle sobre o que lhe ocorre. Sensação, nada mais. Efêmera como é, como tudo é, a vida não se presta a ser pensada, mas vivida. Não que pensá-la seja um problema per se, mas quando se passa mais tempo pensando que vivendo, aí sim a coisa toda se complica. O tempo é a alguns maldoso, perverso, implacável. A outros é necessário até. Às vezes torcemos para que passe rápido. Outras vezes, para que sequer passe. É ele o responsável pela efemeridade das coisas. Não se apressa, nem se atrasa. Não se permite manipular, por mais que queiramos fazê-lo. Contraditório? Sim! Por isso mesmo o tempo, que faz da vida um constante e ininterrupto devir, é o que deixa tantos e tantos receosos, amedrontados, enclausurados, enfim, seguros da efemeridade das coisas... Seguros, mas não livres. Creio que as grandes decepções amorosas são fruto da crença na permanência das coisas e das pessoas. Quando se crê que o outro será o outro, sempre igual, é incorrer em sério problema. Por quê? Porque somos nós, também, ou até mais que todo o resto, efêmeros. Mas, apesar de efêmeros, continuamos sendo nós mesmos. Essa é a grande virtude do ser humano. Poder, ao longo da vida, passar a ser outro, sem deixar de ser si mesmo. Outra contradição? Sempre!

A borboleta é sempre usada como um exemplo de efemeridade, dada sua sempre curta vida. É também ela um dos símbolos da psique. Coincidência? Acho que não...

Enquanto escrevia pensava sobre a vida. Agora com licença que vou ali viver...








sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

É óbvio!



Quantas vezes já me deparei com isso? Em diferentes situações, pessoais e profissionais, ter que dar conta do óbvio. Mas se é óbvio, por que é tão difícil notá-lo? Justamente porque óbvio... Óbvio, não? Nada disso, nada óbvio... Se fosse óbvio notar que o óbvio é difícil de ser visto enquanto óbvio, o óbvio nos saltaria aos olhos, e uma vez saltando aos olhos, deixaria de ser óbvio... Não é óbvio? Mas se dar conta do óbvio é tarefa difícil, já que no cotidiano acabamos nos acostumando com certas coisas que outrora não eram óbvias, mas que se tornam óbvias. Se assim for, nós as tornamos óbvias. Fico pensando no trabalho do psicólogo... Faz parte do nosso trabalho não permitir que as queixas se tornem óbvias, que os sintomas se tornem óbvios, que as pessoas que nos procuram se tornem óbvias. Isso mataria qualquer possibilidade de ajudar quem quer que fosse, pois criaria fatalmente uma generalização absurda e perigosa. Nada é óbvio no discurso do paciente. Ou tudo o é? Bom, para ele certemente várias das coisas ditas são óbvias, e cabe a nós dar conta de perceber e sentir porque aquilo se tornou a ele óbvio. Mas a nós cabe não só ver o óbvio pelos olhos dele, mas dar conta de, com ele, discutir tal obviedade.

Reflexões sem rumo, nada óbvias... Ou serão?

Abraços!!!